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quinta-feira, 23 de julho de 2009

AURORA - Segunda Parte...

Vich... esqueci de postar ontem o segundo capítulo... acho que estava ocupada tendo overdose de Lua Nova e Alice!!!

Mais tarde vou postar fotos de New Moon aqui... estão lindas!!

Mas vai lá, o segundo capítulo:

Capítulo 2

A Velha Casa

Era meu aniversário e como sabia que não tinha nenhum presente a esperar, pois não havia quem os dar, eu havia planejado providenciar eu mesma um presente. Eu iria a velha casa e desta eu vez eu atravessaria a porta daquele bendito quarto. No meu carro, um pouco antigo, afinal não via necessidade em gastar minha herança em um carro que poderia se desfazer em uma batida, como o dos meus pais, eu atravessei aquele matagal que crescia e invadia a casa.

Ela estava muito velha, tomada pelo tempo e pelo mato, pessimamente conservada, mas não me restava dúvidas de que aquela era a casa dos sonhos. A casa em que a família vivia ou vivera anos atrás, talvez centenas de anos atrás, mas era aquela casa, que parecia ter sido abandonada as pressas por pessoas que não queriam daquele lugar nenhuma lembrança.

Todos os móveis, ou quase todos, já que eram poucos, estavam lá. Um piano em uma parte rebaixada do piso era minha peça favorita, ele era lindo e imaculado, a poeira e o cupim haviam tomado boa parte de seu glamour, mas ele estava lá. Eu nunca conseguira tocar em suas teclas, nem sequer espanar a poeira, eu sentia algo tão intenso dentro de mim que me proibia de quebrar o seu sono, de acordar alguma coisa naquela casa.

Eu descobrira a casa no dia em que soube da morte da senhora Newton, ficara com tanta raiva que saí andando a esmo pela floresta, como se tivesse perdido todas as esperanças novamente. A dor pela morte dos meus pais, pelo abandono a pesquisa que dedicavam-se e pela estupidez de não ter procurado aquela mulher antes, me abatiam, agora em dobro, todavia, quando meus olhos encontraram a alta parede de vidro, que dominava a face sul da casa, eu me esqueci de tudo.

Minhas pernas perderam a força e meus olhos o foco, eu caí de joelhos e chorei como uma criança sentida que levara uma bronca por um erro que não cometera. As minhas lágrimas me mantiveram no chão por quase uma hora, mas depois disso tive forças para me levantar e adentrar aquele lugar, quase um santuário para mim.

Durante meses visitei a casa todos os dias, ela ficava tão escondida no meio do mato, que só devia ser essa a explicação para ainda estar lá, em ruínas, é claro, mas ainda assim, intacta por invasores e pichações. Aos poucos eu conhecia a casa em sua totalidade, talvez fosse capaz de fechar os olhos e visualizar todas os 17 degraus ou as 42 largas tábuas do assoalho da sala, aquela era a casa dos meus sonhos, a minha casa, de certo modo, mas havia um lugar que me era proibido, a última porta do andar superior.

Eu sabia o que havia ali, os sonhos me mostraram uma garota, muito mais parecida comigo do que a ‘bela Annie’, entrando naquele cômodo. Em um tempo, um sofá de couro preto, grande e confortável, em outro, uma cama king size de cabeceira de ferro com flores negras entalhadas (havia uma partida). Eu conhecia o quarto, mas apenas dos sonhos, no entanto, eu nunca conseguira atravessar aquela porta, como nunca tocara o piano, e era por isso que eu iria lá naquele dia, aquele seria meu presente de aniversário.

Eu desci do meu carro alguns metros longe da casa e me aproximei ansiosa, a demora para levantar me deixara com apenas vinte minutos para ir até a casa e voltar a tempo da escola, mas apesar da minha pressa, eu não podia correr pela casa como corria pelo mato a sua volta. A idade da velha moradia deveria ser respeitada, eu não gostaria que desabasse sobre mim enquanto subia as escadas, ninguém jamais me encontraria ali.

E foi com cautela que eu subi cada um dos degraus, pensando em quão diferente dos meus sonhos o quarto estaria. Não tive coragem de ir direto ao quarto, então passei no escritório, não havia livros nas prateleiras e os pregos não sustentavam quadros, mas eu os conhecia muito bem para precisar que eles estivessem ali, nem precisava fechar os olhos para visualizá-los.

Passei por todo o aposento, fui a grande janela de vidro na lateral e fiquei observando as folhas das árvores dançando na melodia do vento, podia ouvir o pequeno riacho que passava ali perto, meus olhos se perderam em pensamentos e mais uma vez tentei me lembrar do sonho daquela manhã.

Nenhuma imagem veio a tona, a não ser os dois apaixonados na velha clareira, se eu ao menos pudesse encontrá-la, talvez as coisas ficassem mais fáceis lá, como haviam ficado quando encontrei a casa. Só que eu não tinha tempo para pensar naquele momento, eu ainda não havia me dado meu presente de aniversário, e só devia ter dez minutos. Eu ficaria ali a manhã toda, mas meu professor de geometria me dera um maravilhoso presente marcando um teste para aquele dia, no primeiro horário.

A porta do quarto parecia a quilômetros de distância, mas eu encurtei os metros com a determinação de uma maratonista, a porta estava ali, a centímetros de mim e meus dedos já quase roçavam a maçaneta intocável. Quando apertei firme minhas mãos sobre ela, o metal frio era capaz de congelar meu coração para sempre, se ele não estivesse tão quente e pulsante com a ansiedade da ocasião.

Só que o gelo dominou meu coração no momento em que a girei. A porta não cedera como esperava. Todos os cômodos daquela casa sempre estiveram destrancados, porque justo aquele quarto estaria fechado?, eu empurrei a porta com o ombro, empoeirando meu casaco preto, mas ela permaneceu firme em sua função de guardar os segredos daquelas paredes.

Eu não pensara nessa possibilidade, não levara nada para forçar a porta, soltei a maçaneta e saí furiosa, desci os degraus com mais pressa do que seria prudente. Eu estava ali para me dar um presente de aniversário, mostrar que eu tinha coragem suficiente para superar meus medos, mas eu também queria ganhar algo, talvez uma nova lembrança, um novo sonho, como o resto da casa me dera.

Eu queria quebrar as minhas próprias regras, eu era cautelosa, mas sabia ser impulsiva, fui para o piano com uma determinação desconhecida e me prostrei diante daquele elefante branco. Eu não sabia tocar uma só nota, mas eu não precisava tocar, só queria fazer barulho, acordar aquela casa, acordar aqueles seres, ou se possível fazê-los dormir e se calarem para sempre.

Foi apenas uma nota que consegui tocar, o som saiu grave e vibrante, ricocheteou nas paredes e penetraram fundo em meus ouvidos, uma lágrima caiu solitária no mesmo instante, como se estivesse esperando aquela autorização. Eu fiquei ali hipnotizada pelo teclado, observando-o por um longo minuto, a nota que eu tocara estava marcada pela minha digital na poeira densa, prestei atenção e contei mentalmente as notas tentando descobrir qual havia sido.

Fora um sol.

Virei as costas e parti, jurando que nunca mais voltaria aquela casa.

A prova daquela manhã foi um desastre, felizmente eu não parecia ter sido a única a tomar bomba, ninguém parecia muito contente com o resultado.

Naquela noite tive o mesmo sonho. Só que eu era capaz de lembrar de cada detalhe como se o vivesse novamente, e novamente.



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